sábado, 17 de março de 2012

"o amor é uma companhia..."

    
     Em nossa primeira série do ano, um dilema anterior à composição: as caras enviadas pelo fotógrafo levaram o poeta a um sempre mesmo poema, “Pátria minha”, de Vinicius de Moraes. Em verdade, os versos de Vinicius preenchiam sem retoque os espaços deixados pelas fotografias, os hiatos entre uma imagem e outra. Que fazer então?

     A possibilidade de refutar a lembrança de versos como “Vontade de beijar os olhos da minha pátria” era distante e, sendo assim, decidiu-se pelo contrário: a composição seria um afundar-se não só neste poema, mas na obra de Vinicius e de todos aqueles que fazem a mitologia artística do poeta. 

Nessa aventura por Caetanos, Caios, Marinas e Pessoas foi ficando cada vez mais salutar o indício de que era uma idéia de brasilidade que se construía ali, isto é, os autores investigados eram responsáveis em grande parte pela noção de Brasil assimilada por Victor.

     Vale colocar, como já é possível de se ter percebido, que o repertório utilizado não é só de autores brasileiros. Portugueses, angolanos, cabo-verdianos, moçambicanos, os artistas da nossa língua, enfim, estavam envolvidos nesse processo, fazendo valer os pontos de aproximação e afastamento de nossas culturas - distintas - unidas pelo Português - também distinto. 

     Daí a composição: a pátria e o sujeito em seu relacionamento de amor e conflito. O flerte com a língua (roçada na língua de Luis de Camões), a mágoa vexada do passado colonial, a impossibilidade de separação entre um e outro (não há pátria sem o sujeito e o sujeito se constrói - também - em sua relação com a pátria).

O verso de Alberto Caeiro, indicando um já não poder andar só pelos caminhos, costura diferentes fases desse amor, colocadas sem a preocupação de uma sequência cronológica, como se a memória trouxesse à tona, num exercício de lembrança, momentos que deixaram marcas.

     Há nuances a serem exploradas, como a relação com o espaço fotográfico (a parede de azulejos, as versões da mesma bandeira), a disposição de pessoas (da turba à solidão), todos elementos que de alguma forma vão conduzindo o leitor por essa, tão sua, história de intimidade.



Nenhum comentário:

Postar um comentário