segunda-feira, 30 de maio de 2011

cortejo


nos teus seios de limão da pérsia
os olhos param.

param carros,
bancos e mulheres
e meditam.

a vida - curta -
curva os olhos na avenida,
faz o pelo sinal.
a morte é uma mulher e não sabe.


cara de fernando diegues
palavra de victor valente

quinta-feira, 26 de maio de 2011


kalunga


uma palavra corta a boca
dos falantes
que flutuam nas sangrias do passado

e a língua castiga os homens
no alumbramento dos seus barulhos.

num balanço,
o mar levou embora a saudade.
deixou a onda.

cara de fernando diegues
palavra de victor valente

segunda-feira, 23 de maio de 2011

versus


deito sobre o colo da cidade torta
e cedo ao sono,
deslizo na diagonal urbana.

estrelas deformando o azul
escorrem pela cama
e fogem.

(a noite passa feito os carros na avenida)


cara de fernando diegues
palavra de victor valente

quinta-feira, 19 de maio de 2011

interiorana

aonde vai aquela espera
que há tanto me acompanhava?

soubesse pistas do seu paradeiro,
não seria esta senhora debruçada
numa sombra de janela,
a vasculhar na vida alheia
aquilo que não fiz da minha...


cara de fernando diegues
palavra de victor valente

segunda-feira, 16 de maio de 2011

derradeiro

e muito tarde percebi
o amor em mim.

feito um velho barco
a tranformar-se em branca espuma,
em névoa clara
deito os olhos na fumaça
dos cigarros que não fumo.



cara de fernando diegues
palavra de victor valente

sexta-feira, 13 de maio de 2011


travessia

 
este mar que ampara o tempo
vem e vai em línguas de lembrança.

eu era a voz a balançar na onda
e na onda fiz minha morada.

pois aonde eu vá, não importa,
há sempre um mar a me lamber a costa.

ele me diz segredos de menino
e me aguça o ouvido para a espuma.

e é só o sal do teu relevo, a branca duna,
que faz de mim qualquer coisa além de nada.


cara de fernando diegues
palavra de victor valente

segunda-feira, 9 de maio de 2011


kairós

o mar por entre os fios de cabelo da aurora
deita,
dorme à relva em pés descalços.

se é manhã de verdade,
pouco importa.

quem dera fosse a vida
o instante da fotografia!



cara de fernando diegues
palavra de victor valente

quinta-feira, 5 de maio de 2011



hermenêutica


isso a que chamam solidão
é só um jeito de andar sozinho.
uns tantos andam aos pares,
eu (tonto) ando comigo.






cara de fernando diegues
palavra de victor valente

segunda-feira, 2 de maio de 2011

'meninos, eu vi'


há entre peri e macunaíma
o abismo que separa
o metro e a rima.

que difere a dor ausente
da que termina
e fica,
horizontalizando olhares.

sei porque vi.
uma nação de olhos
de peixe saiu do mar,
e não sabe se anda
ou se serpenteia.


cara de fernando diegues
palavra de victor valente