segunda-feira, 30 de agosto de 2010








sono

o silêncio, enfim,

cantou para mim

sua sonata.



cara de fernando diegues
palavra de victor valente

quinta-feira, 26 de agosto de 2010



a noite em mim


ouve os sons da noite,
os sons que adormecem a aurora.

casas desenhando histórias,
feito nuvens,
inventam a imaginação das crianças.

fosse sempre tanta calma
a pressa, só, fugia,
tímida.

agora
nada move o mundo
e o mundo pára.







cara de fernando diegues
palavra de victor valente

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

do direito de resposta

eu queria amar os dias de silêncio e dúvida
que regaram o nosso sonho.
queria amar as noites acesas de afeto, vertendo vida.
eu quis amar os edifícios construídos sobre a alma,
as paisagens conhecidas do desejo e nunca vistas
quis te dar os rastros indizíveis das palavras,
seus os motivos, e essa necessidade desesperada de que eles existam.
eu quis que fosse calmo, tenro e sólido.
que fosse amor ou qualquer coisa parecida.



cara de fernando diegues
palavra de victor valente

quinta-feira, 19 de agosto de 2010


ritos de partida


que segredos contam esses ventos matinais
que me vestem de noiva e amante.
em que língua pronunciam seus sussuros,
seus gemidos.

decifra-me,
e ele me invade.
despudoradamente
se anuncia.
somos, agora, eu e o vento.
pertenço a ele.
e ele me leva.

cara de fernando diegues
palavra de victor valente

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

o cântico dos cânticos                                                          


lembro da vez em que vi os olhos dela,   
olhos de atriz.
de quem vive o prazer de enganar.

foi tanto mar,
eu sei,
me perdi.

com os pés a pisar em nuvens,
eu vi o amor sorrindo.

um anjo à beira do abismo
a esnobar da gravidade.

cara de fernando diegues
palavra de victor valente

quinta-feira, 12 de agosto de 2010


nonna


quero-me amparado no teu corforto
e, em ti, lembrar dum cheiro de flor
de outrora.
seguro no teu abraço, olharei a cidade
e não sentirei medo,
pois o medo habitará as casas
e eu, enfim, habitarei o teu orvalho.

serei livre.
serás plena.

dormirei em tuas raízes
e a manhã virá sorrindo.

e eu, ao pé do dia,
te cantarei os versos mais velhos e bonitos.
versos velhos e bonitos...
feito os fios dos teus cabelos.


cara de fernando diegues
palavra de victor valente

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

da criação


Deus - é o que dizem -
construiu o mundo em seis dias.

separou a luz das trevas
e semeou os seres e as coisas.

ao fim e vendo que tudo era bom,
deu-se o merecido descanso.

no entanto, ao homem
- porque a fé é mesmo feita de mistérios-
coube a tarefa de nomear a obra divina.

e ele assim o fez.
o faz.

ó homem, ó mulher!
lembra-te sempre das tuas histórias.
que em cada uma delas
há um tanto da tua verdade.

cara de fernando diegues
palavra de victor valente

quinta-feira, 5 de agosto de 2010



matinal


da minha janela duas cores se percebem.
íntimas, esfregam sobre o dia
os corpos derramados de beleza.
lasciva, a madrugada vai deitando sobre a areia
e dorme.
o meu humor oscila,
vacila,
preguiça.
faz espuma pela beira.
como a cebola, me dou em camadas.



cara de fernando diegues
palavra de victor valente

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

 
meu


vocês que dizem que a vida é boa
nunca foram à missa.
não sabem da sorte que a morte exige.
não sabem do gosto azedo que fica
impregnado em preces, bancos e genunflexões…
vendendo sonhos.

religiosamente,
peço a Deus pela alma daqueles
que,como eu, não rezam.
que dormem na primeira ave-maria.
tenho fé nos meus, ateus, da vida inteira.
fé nos que pintam apartamento,
nos que vivem da noite,
nos que fazem mudança.
tenho fé nos que choram no banho,
nos que não choram
e nos que não sabem chorar.

aos que amam com defeito.
aos que bebem a estragar as festas.
aos que dizem o que não deviam.
aos que sabem que só a beleza.
 
a beleza, meu bem,
que salvará o mundo.


cara de fernando diegues
palavra de victor valente