segunda-feira, 30 de janeiro de 2012


correndo entre as estrelas


a poesia passou por aqui 
e deixou velas acesas. 

(poesia é um ato de fé, 
e se oferece em mistério!) 

tem-se um verso e lá vai ela 
a provocar caminhos! 

é névoa, pó, neblina... 
cor ensolarada de espuma, 
coisa que a gente não pega, 
mas que impregna. 

menino que chega, 
aquela quadra do Bandeira, 
a renda da bolsa das senhoras... 

:tudo o que demora, espera 
e passa. 
tudo o que aflora, goza 
e fica.




cara de fernando diegues
palavra de victor valente

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

a minha solidão

do lado de dentro deste círculo
eu me dobro ao vício em que me vicio.
de tudo acontece
de dentro do meu umbigo.
não há freio que me  impeça
de ser o que sou comigo
se a vida que passa é breve
que leve o que é meu consigo. 



cara de fernando diegues
palavra de victor valente

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012


um poema


um poema nasce quando não cabe
no peito, ou na dor.
brota pela superfície, à pele fina,
e medra. feito luz de lamparina.
escorre pela porta.

um poema molha a cara do poeta
e vai embora.
toque de realidade na cabeça aérea.
nasce da matéria e na matéria se consagra,
intervalo entre a língua, dita,
e a névoa.

chora quando vem.


cara de fernando diegues
palavra de victor valente

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

sentimento mínimo
 
quero me misturar na espuma
até perder da carne a consistência,
dissolver-me em água
e ser soprado pelo asfalto.
 
quero brincar de bolha que eclode
e andar disperso,
aroma que rabisca o vento.
 
em todas as histórias, um mar de nomes e sereias,
balas de festim que ardem na expressão do estampido.



cara de fernando diegues
palavra de victor valente

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012


posfácio

calma das primeiras horas da manhã,
tão distante do verão da véspera.
o calor dos dias passados se abranda
e deixa pensar a vida com olhar sereno.

não há pressa que complique
ou resolva qualquer coisa,
só dois olhos amuados no nublado matinal,
que veem o mundo pelo filtro da janela.

o tempo sem as horas afaga
o homem vestido de dúvida,
que volta para a cama e dorme.



cara de fernando diegues
palavra de victor valente

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012


megalomania


ó linguagem despetalada,
por que não falas do que eu sinto?

uma alegria que me invade 
grita a calma do teu nome...
e não respondes.

absinto,
o teu sorriso é perigoso...
é o teu sorriso.

gota, aroma, malha,
colcha entrecortada de ruído.

surda,
diga-me o que queres! 
ou te afasta.

diga-me a que veio! 
ou me escuta.



cara de fernando diegues
palavra de victor valente

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

vadio

gosto bom é o teu.
assim.
desse jeito mole...
que me amolenga e bota tonta,
a minha boca fica roxa
e à coxa sobe um arrepio.
ai.
vento que me roça em dia frio.
louça que me beija o mel da boca.
passa, coça, apronta. arromba a porta.
e sai.



cara de fernando diegues
palavra de victor valente

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

os três reis

os três amigos já nem sabiam o porquê daquilo
de ir à missa juntos, uma vez por ano.
o fato é que iriam todos e enquanto houvesse.
menos católicos a cada liturgia,
não era o rito que lhes prendia,
nem a beleza eucarística
ou a eloquência do vigário,
ali presentes.
é que havia entre eles uma espécie de segredo,
um compromisso de perpetuação de boas lembranças,
que pediam uma ritualística qualquer para encontrar a renovação pretendida.

os três amigos iriam à missa ad infinitum,
ainda que não quisessem, ainda que não fossem.

há quanto tempo não vai à missa, o senhorzinho?
não sei, mas na noite de natal, é certo que irei.




cara de fernando diegues
palavra de victor valente


segunda-feira, 2 de janeiro de 2012


poeteu


inundado de sentimento,
eu vejo as cores por trás
da chuva que me molha.

na ilusão do presente eu sou história,
ou passado ainda não vivido.

um homem ignorante do tempo,
que observa um banco de praça
e vê sua alma brincar com a criança que me chama.

vem.



cara de fernando diegues
palavra de victor valente