quinta-feira, 28 de junho de 2012

o revés do ópio

no dicionário do pensamento marxista
as palavras se embaralham em lutas de classe.

mais valia um trocadilho bobo...

a fé enorme disfarçada
sonha o mundo futuro do paraíso dos incrédulos.

Deus assume a forma das verdades que queremos
e os homens se repetem a disfarçar os mesmos sonhos.





cara de fernando diegues
palavra de victor valente

segunda-feira, 25 de junho de 2012

noah

no dia em que fui embora,
meus olhos cheios de mágoa
levavam o mar nas costas.

andava, e a maré se entornava
no encalço das palavras não faladas.

ondas cirundavam a memória,
e o acaso navegava em indizível solidão.

o peito mudo se banhava na saudade
e cobria a rua negra de silêncio e de concreto.






cara de fernando diegues
palavra de victor valente

quinta-feira, 21 de junho de 2012

sob a pele dos lençóis

cansado,
o corpo pede calma.
mas não sabe que a calma
é inimiga da matéria.
não sabe que a pressa,
dilatando veias,
intensifica olhares.

a vida anda lá fora
enquanto a casa dorme...
a vida, enorme, chama
enquanto a cama me embriaga.




cara de fernando diegues
palavra de victor valente

segunda-feira, 18 de junho de 2012

o transitivo

poema lido,
sou astro imaginário
a viajar pelo pacífico.

um bote suicida em queda livre.

a vida resultou vazia
e por isso me liberto.
quero mais que a realidade morna dos dias!

eu quero a perambulação dos pícaros,
o sal que corta a proa dos navios.

viver do instante
enquanto o instante existe.




cara de fernando diegues
palavra de victor valente

quinta-feira, 14 de junho de 2012





que a poesia me encontre
no abandono do silêncio,
ponto cardeal desconhecido,
presumido entre o cais e o sul.

eu hei de esperar sozinho.

se doida,
não me importa.

que a poesia venha coxa.

e entre os umbrais
verborrágicos do meu dia,
me toque a boca com a ponta da palavra.



cara de fernando diegues
palavra de victor valente

segunda-feira, 11 de junho de 2012

saber de si

bonito mesmo é o sentimento,
o espaço entre a expressão
e o universo consentido.

o homem se perde das palavras
e encontra o caminho para dentro
do abismo que o chão ignora.

morrer de olhos bem abertos
é ser fumaça de si mesmo,
é ser outono desfilando pela casa.

a vida passa o homem,
ignorante até daquilo que não sabe.




cara de fernando diegues
palavra de victor valente

segunda-feira, 4 de junho de 2012


no samba de roda
a mulher avisa:
ou eu ou a viola.














cara de fernando diegues
palavra de victor valente