segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Queridos leitores,

   O projeto Cara da Palavra é motivo de grande orgulho para nós, Victor e Fernando. Por mais de um ano nos vimos imersos nesse desafio, que ultrapassa as duas postagens por semana: o Cara da Palavra já talhou o âmago dos seus criadores, deixou marcas consistentes em nossa história.
 
   Na busca pela beleza do incômodo, fomos nós os mais modificados pelo processo criativo da proposta - mais que compor, era preciso viver o que se publicava, mexer com questões particulares para chegar na provocação.
 
   Sim, fotos e poemas buscaram tirar do lugar, ou antes rever os lugares de costume. Quiçá outros olhares passaram a também olhar com outras cores os detalhes (não os da tela, mas os da  vida!).
 
   Entretanto, o poeta também é professor, estuda, é homem do mundo. O fotógrafo também estuda, é jornalista, cidadão. Ficou difícil, ao menos neste semestre, conciliar nossas demais atividades com o blog. O artista que compra pão, o artista do bar, da redação, da sala de aula é feito de vida trivial.
 
   A verdade é que decidimos deixar de postar pelo restante do segundo semestre justamente porque prezamos a qualidade do trabalho - não cremos, nem podemos crer numa arte industrializada, feita em série, quando dá e de qualquer jeito, só para cumprir as metas e os prazos.
 
   Deixamos claro, assim, que o  blog não acabou. Ele fará uma pausa até o fim do ano, para que possamos resolver pendências e mesmo nos organizarmos, para que ao voltarmos o lirismo dos clowns de Shakespeare (esse que é libertação) esteja ali, não porque foi dado como bênção, mas porque foi trabalhado na madeira e conservado em sal.
 
   É claro que o material produzido ficará aqui, disponível a todos os leitores deste espaço, que tanto contruibuíram com o refinamento de nossa foto-poesia.

Nosso muito obrigado e até breve,

Victor Valente e Fernando Diegues

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

litígio
 
o homem que sai da praia
leva de mim alguma coisa minha,
como um rim.

é engraçado como nunca perco
essa expressão pesada,
de gente séria,
como reza ladainha...

o mar por atrás de mim me seduzia.
com seus dedos de água
e pernas de areia fina
fazia marcas no meu corpo,
dessas que mulher nenhuma faria.

sentado na areia eu me vi sair do mar
e sei que ele chorava enquanto eu dava as costas.
 
 
cara de fernando diegues
palavra de victor valente

segunda-feira, 22 de agosto de 2011


cultura local

o lado de trás do porto
acende as velas para nossa senhora,
mas quem humaniza a gente de meu Deus?

os tubarões do porto de vitória
abraçam seus guindastes com aroma de café 

conilon
e ajeitam a cama.

(eu, que nasci às margens do cais,
me pergunto o que fui,
entre ferro e fogo...)

cara de fernando diegues
palavra de victor valente

quinta-feira, 18 de agosto de 2011


odisseu (2)
 
porque sei que é preciso seguir, 
eu sigo.

nada me prende onde já não sou preciso
e o mar que se alonga na distância
já não são lágrimas de portugal.

eis o que sou:
um homem bruto por trás dos versos livres,
e não sei mais que as palavras magoadas
de quem se despede

                   de si...

sempre prisioneiro,
hei de buscar até o fim.
 
 
 
 
cara de fernando diegues
palavra de victor valente

segunda-feira, 15 de agosto de 2011


bado de valsa e eu não sabia
 
 
triste cena de domingo,
as folhas suspirando 
pelo vento matutino.


cara de fernando diegues
palavra de victor valente









quinta-feira, 11 de agosto de 2011



quando eu era criança
o tempo se fantasiava de amigo
e brincava comigo.

claro.
isso antes desse olhar de óculos
a enfeitar estantes e namorar computadores
ser um espectro do passado,
flor parasita em planta ressequida.

a gente pensa que vinga
e esquece que brincar é direito,
é certo. e medra.
 




cara de fernando diegues
palavra de victor valente

segunda-feira, 8 de agosto de 2011



marulho

a criança que olha o mar
nem sabe que brinca.

nem sabe que dança
no embalo de onda.

borda o mar no olhar,
em linha torta.
costura uma concha.
 
 
cara de fernando diegues
palavra de victor valente

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

infortúnio

um dia, sim,
há de morrer em mim
esta preguiça,
essa vontade de deitar bem tarde
e só brincar de eternidade!

um dia.
um dia, eu disse?
um dia...!





cara de fernando diegues
palavra de victor valente

segunda-feira, 1 de agosto de 2011



eu labirinto


um homem a percorrer caminhos
torna-os irreversíveis,
não torna à forma antiga.

liberta-se de si e em si repousa
não mais o sono confiante das crianças,
de adeus preciso.

anoitece sempre só.



cara de fernando diegues
palavra de victor valente