quinta-feira, 30 de junho de 2011


soneto


os minutos de espera na estação
endossam o prelúdio do retorno.
a noite com seus passos de coturno
avança e vem, imita os sons que são

da rua. um velho que ao meu lado ronca,
ri e me afasta um tanto dos barulhos
que me embalam, num vem e vai de onda
distante, que agora é nada. espúrio

e arbitrário é o coração dos homens,
eu sentencio. espúrio e arbitrário!
o funcionário a recolher bilhetes

desperta outra vez meu olhar pra ontem.
- pobre rima vestida de passado!
eu subo as escadas e pago o frete.






cara de fernando diegues
palavra de victor valente

5 comentários:

  1. Por acaso é regra de todo o soneto ter que ser lido com um dicionário ao lado?? rs.. mas uma pergunta que não quer me deixar calar: em meio ao "cenário" a que o poema faz alusão, o que remeteu o eu-lírico a constatar que o coração humano é "espúrio e arbitrário"?
    Já a foto é muito intrigante.. como você conseguiu achá-la, hein? Uma vegetação vista por uma portinha que não parece pertencer a uma casa ou coisa parecida...

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  2. Sempre gostei da figura da mente humana como uma densa vegetação, na qual se engendra, se aprofunda. Daí o poema, a estação (de ônibus, de trem?) como aquilo que desperta a memória.
    Entretanto, há a quebra: uma cena inusitada retorna o homem à realidade, por isso a afirmação do 'espúrio e arbitrário', pois o homem que ronca e ri vem ao acaso, mais que isso, gera uma reflexão que foge do rumo para o qual o poema caminhava.
    Ampliando o tópico, podemos dizer que as coisas que gostamos, pessoas que amamos, as situações que nos marcaram vieram, na maioria das vezes, de situações arbitrárias e espúrias, isto é, que escapam da nossa intenção ou do nosso controle.
    Ajudou?? rs

    beijo.

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  3. Oi! Matando a curiosidade sobre a foto:

    Ela foi feita em Ilha Grande (RJ) perto do antigo presídio da Ilha (lembra do Memórias do Cárcere, do Graciliano Ramos? Pois bem, foi para esse presídio que ele foi levado.

    Essa "portinha" fica na lateral de uma espécie de galpão meio abandonado que fica perto da área do presídio. Não cheguei a pesquisar, mas pela arquitetura do lugar, deve ter funcionado como teatro/cinema/auditório para a comunidade local e/ou para o presídio.

    A luz que entrava pela vegetação e a sombra projetada no chão foram os elementos que me atraíram (sem contar o lance de mistério do que estava além da porta ou o que poderia entrar por ela).

    Como eu acho uma foto? É tão simples quanto complexo (rs)...as boas imagens, muitas vezes, estão lá, esperando ser achadas. Tudo que busco fazer e "afiar" meu olhar para não passar por elas sem perceber. No mais, é estudar para melhorar a técnica...

    Sobre esse lance do olhar, tem um vídeo com um grande fotógrafo que pode trazer outros elementos: http://www.youtube.com/watch?v=8yW4GnXGSa0

    Bem, é isso. Vamos nos falando! Até mais!

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  4. 1 comentário e 1 pedido

    - Bom, muito bom...Mas novamente -demasiadamente - taciturno...
    Daí vem o pedido: escreva sobre o DIA, por favor! Só pra eu ver se você vai continuar com essas características.rsrs... Não, não, é também pra conferir a opinião escrita!!!

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  5. Fabiana, pedido aceito (outros, faça-os quando quiser)! O poema está pronto, nos vemos nas próximas composições. rs

    Um beijo!

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